terça-feira, janeiro 09, 2007

Amor e Sexo no Trabalho
“Onde se ganha o pão não se come a carne” – ditado popular

Muito comum ouvirmos as pessoas parcelarem suas vidas: vida profissional, vida social, familiar, amorosa e sexual, a dita vida intima. Para além de uma grande inverdade, essa noção está em processo de esfacelamento. Não somos várias pessoas, e sim uma só, e, portanto não podemos separar em vários prismas nossas vidas.
E o que acontece quando no ambiente de trabalho começamos a nos envolver com o colega de trabalho? O que fazer quando ocorre aquela paquera, aquela troca de olhares? E quando pinta aquele clima?
Esta é uma situação que por muito tempo foi solenemente ignorada e que agora emerge com grande força e tem produzido grandes estudos na área da organizacional.
No mundo globalizado, a nova forma da ditadura do capital, as pessoas passam horas infinitas dentro do trabalho, nas suas formas mais variadas de labuta, e não raro passam a conviver no dia a dia com os companheiros, e, para não viverem numa relação de gelo, com o tempo passam a ter mais intimidade um com o outro, e segundo estudos, de cada dez colegas de trabalho no momento em que você lê este blog, quatro estão se relacionando.
O ambiente de trabalho facilita relacionamentos na medida em que coloca sob o mesmo espaço pessoas com graus de instrução semelhantes, nível sócio econômico provavelmente semelhante, e outras características que convergem. Então há um ingrediente a mais que facilita um relacionamento entre duas pessoas, que em muitas vezes resulta em namoros e casamentos.
Mas os relacionamentos amorosos dentro do local de trabalho não são um mar de rosas como muitos pensam. O modelo de um casal feliz que se conheceu como colegas de trabalho e que hoje são parceiros de vida não revela uma faceta muito importante: como administrar uma relação sem acarretar prejuízos para a carreira?
As pessoas vão ao trabalho para trabalhar. Alguém poderia dizer que esta afirmação não sai da obviedade, mas esta é a postura de varia empresas que ainda não se reciclaram para poder valorizar o capital humano e ver que é preciso intervir com os recursos humanos dentro desta ótica.
Todos saem de casa para trabalhar, mas eventualmente as pessoas acabam se envolvendo com o colega de trabalho, e quando a situação fica restrita a um ficar esporádico não se tem problema algum. Entretanto, as pessoas se preocupam quando o relacionamento toma proporções de namoro, mas lembrar que começar um namoro no trabalho não é de forma nenhuma vergonhoso.
É preciso antes de tudo saber se a empresa tem nos recursos humanos uma política de relacionamentos, para poder regular as relações. Algumas empresas permitem o namoro entre seus funcionários, outras optam por crivar essas relações, permitindo somente entre funcionários de departamentos diferentes, e outras não o permitem, e infelizmente há dispositivos na lei que dão a empresa poder para tal, que á a chamada incontigência de conduta, ou seja, a não adequação do funcionário no regimento da empresa, o que pode determinar justa causa, o que faz com que as empresas estejam legalmente respaldadas a proibir namoros entre seus funcionários.
Mas existe um código de bom senso que nos permite tirar algumas conclusões. É preciso evitar dar beijos, abraços e caricias mais intimas no horário de trabalho, pois isto poderia incorrer numa situação constrangedora para as pessoas que estão ali.
Quando a relação se torna um namoro, noivado ou casamento é importante que entre as partes envolvidas não haja uma relação de subordinação, para que num futuro não se venha a ter problemas na justiça trabalhista quanto a questões de assedio sexual ou moral.
Todo casal briga, e pelos aspectos negativos serem amplamente superiores aos positivos, porem mascarados, vez ou outra (ou vez em sempre como Regina Navarro analisa) é preciso que os problemas sejam resolvidos fora da empresa, e também por isso é importante que se possível ambos peçam transferência para outro departamento.
Os fofoqueiros (como sempre) estão de plantão. Por isso é importante também que se tenha um código de ética, pois alguns deslizes podem arruinar a carreira de ambos na empresa.
Assim, quando os namorados tiverem certeza de que querem engatilhar um namoro firme é bom não esconder, e contar primeiro ao chefe, afinal é melhor ele ouvir da boca do funcionário que pelas palavras distorcidas pelos agentes da fofoca.
É igualmente importante que as pessoas evitem conversar sobre seu relacionamento amoroso, não chame o parceiro (a) pelo apelido carinhoso que só mesmo cupido explica, não ter demonstrações explicitas de desejo, e fundamentalmente de ciúme dentro do ambiente de trabalho.
Marco Antonio era encarregado de produção de uma empresa de laticínios, sempre adotou uma postura de machão na frente dos colegas de trabalho, e, portanto machista, e vivia gloriando-se de sua vida sexual tida por ele como plenamente satisfatória para ele e para a parceira com que estivesse no momento. Márcia, assessora de ralações internacionais da empresa, o conheceu lá mesmo. Começaram a namorar e foram viver juntos numa relação estável.
Certo dia Márcia, brigada com ele, reclamou com Timóteo, seu colega de departamento, sobre sua vida sexual, e o problema de disfunção sexual de Marco Antonio, que tinha ejaculação precoce e não dava prazer para ela. A historia rapidamente espalhou-se pela empresa e Marco Antonio, passou a ser questionado na sua dita masculinidade.
É claro que a empresa, como um reflexo da sociedade, está fortemente impregnada por vários mitos sexuais, o que não é agora o mérito da questão, mas consegue nos dar a dimensão da questão dos relacionamentos num ambiente de trabalho: é preciso ter discrição e, fundamentalmente, maturidade para separar não a vida, mas as conveniências do momento.
Célio se separou de Simone e terminaram um casamento de cinco anos, ambos se conheceram na empresa. E devida à crença nos versos de Renato Russo “se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber que sempre pra sempre acaba”, tiveram maturidade para não deixar que o fim do seu relacionamento como marido e mulher acabasse com uma ótima relação como colegas de trabalho.
Essa postura de “o amor acontece enquanto dura” é fundamental para que a pessoa mantenha uma auto-imagem positiva o suficiente para não tornasse abatida a ponto de comprometer sua produtividade, e por conseguinte sua competência como profissional. É preciso que as reações emocionais, como é o caso também das explosões de ciúme, não acabem por superar as condutas racionais.
Mas é claro que temos vários aspectos positivos a destacar. Quando estamos surfando na onda da paixão fazemos as tarefas com mais entusiasmo, e nos dedicamos com mais afinco, e obviamente produzimos mais e melhor. É claro que como isso interessa ao empresário, a mentalidade de afrouxamento nas normas de relacionamento ganhou espaço, pois há mais exploração do empregado agora fechado por um cupido.
Falei bastante do relacionamento em si, mas e o sexo? É fundamental (e deveria colocar várias exclamações aqui) que é preciso ter cuidado para não ficar sozinho em ambientes com o namorado, para não despertar aqueles velhos comentários de quem não tem muito o que fazer, e também (com mais exclamações ainda) não se iludir com as cenas de filme norte-americano: transar sobre a mesa do escritório. Se alguém flagrar o RH terá somente uma coisa a fazer: demissão.
Bom, mas a temática parece muito heterossexista. E será que não temos gays nas empresas? Sem comentários.
São poucas as empresas que possuem uma política estruturada de diversidade sexual e de respeito no ambiente organizacional. Recentemente li que a IBM definiu sua política para os funcionários homossexuais da empresa, e isso é fundamental para que possamos pensar em respeito no ambiente de trabalho, uma vez que é lá que mais de um terço dos relacionamentos começam e que é ao mesmo tempo o espaço em que a pessoa passa mais tempo nesta época de globalização.
O ambiente de trabalho, novamente como um dos componentes da sociedade como um todo ainda é fortemente preconceituoso, e não raro pessoas são demitidas sob qualquer cínico argumento, mas fundamentalmente porque são homossexuais. E daí o que fazer? Para quem é demitido é mais fácil para um homossexual chegar em casa e dizer: mãe, resolveram reduzir o quadro funcional da empresa, e ai eu sai.
Essa situação tão comum por muitos gays que são demitidos em função de sua orientação sexual deve ser barrada nas empresas. É claro que o preconceito é tão grande que só falamos de homossexuais excluindo-se as travestis, afinal nunca vi uma empresa de engenharia contratar uma travesti para ser responsável por qualquer função, e por isso vão para as suas tradicionais profissões na sociedade: cabeleireiras e profissionais do sexo.
A maioria dos homossexuais ainda vive no armário (gíria usada para quem não se assume como gay e adota uma postura de heterossexual). Quanto a se apaixonar, o que ocorre muitas vezes é que um homossexual se apaixone pelo colega de trabalho e não decida investir, pois tem se medo muito grande da descoberta. Ou então, a colega de trabalho investe num flerte com ele, e para manter as aparências ele acaba por aceitar a relação.
No caso de homossexuais assumidos, que por sua postura geralmente tem mais ou menos respeito dentro do ambiente de trabalho, o caso se torna, paradoxalmente, pior. A pessoa acaba por não investir em colegas, mas ao receber uma investida geralmente fica com receio de apenas ser uma brincadeira de mau gosto dos colegas de trabalho para ver a sua reação.
Em resumo, se para uma pessoa heterossexual já é conturbado manter um relacionamento no trabalho, essa situação toma contorno de conflito existencial para um homossexual.
Meu desejo é que possamos viver cada dia mais liberdade para as experiências amorosas nos relacionamentos de trabalho, sejam homo ou heterossexuais, e que as empresas criem espaços reservados aos casais da empresa que queiram desfrutar de um momento mais intimo nos seus intervalos.
Abraço e até a próxima postagem.