sábado, dezembro 30, 2006

Relacionamento, Sexo e Internet


Neste momento em que o aprendiz de feiticeiro dono deste blog escreve são 1:40 h da madrugada. Em mais uma noite de insônia escrevo este humilde artigo. Não posso negar que o pior aspecto da insônia é que ela nos acomete a noite, quando as pessoas dormem e não temos por conseguinte com quem nos relacionar, mesmo em nível de amizade.
Entretanto, assim como quem vos escreve, milhares estão sem sono, e poderiam simplesmente entrar numa sala de bate papo da internet e conversarem. Mas obviamente a internet não é apenas um último recurso dos que têm insônia, ela está aí para todos.
Aí vão duas pequenas historinhas para ilustrar um pouco.
Neto estava de folga e entrou num chat (sala de bate papo) da internet, e começou a conversar com Michele. No desenvolvimento da conversa um dos dois precisa sair, mas combinam de entrar no dia seguinte, e assim aconteceu. Certo dia Michele comentou no chat que estava excitada, e ambos optaram pelo sexo virtual, ou o sexo pela internet. Fizeram, gozaram. Depois, no decorrer de conversas resolveram trocar telefones, marcaram um local, e posteriormente se conheceram. Hoje vivem juntos numa união estável.
Felipe, um adolescente de 17 anos, que é bissexual entrou numa sala de bate papo e conheceu Dailson, um jovem universitário de 21 anos e homossexual. A principio houve muita conversa e não coube espaço de liberdade para uma troca reciproca de telefones, visto que ambos ainda não saíram do armário, gíria usada para designar aqueles que vivem a vida dupla: aparentam ser heterossexuais, mas escondem da sociedade seus desejos por pessoas do mesmo sexo.
Como se sabe a Internet surgiu como um canal de comunicação entre o serviço de inteligência dos Estados Unidos , a CIA, durante o período da Guerra Fria. Com o fim da tensão entre os dois blocos, houve uma popularização da internet, a ponto do mundo hoje quase parar sem a internet, e assim surgiu as salas de bate papo. Os exemplos acima, é claro, não dão conta de toda a dimensão dos participantes das salas de bate papo, e menos ainda da Internet como um todo, mas nos permite algumas boas reflexões.
A tecnologia cause, sem dúvida, medo nas pessoas. Talvez os versos “mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem” , composto por Belchior e eternizado na linda e bela voz de Elis Regina, nos dá a dimensão deste pavor das pessoas quanto ao que é novidade, e acriticamente já lhes causa estranheza. Muitos disseram que os chats eram o topo da solidão humana, em que pese o argumento de que o homem iria se relacionar somente com a máquina. Entretanto é toda uma relação com a outra pessoa, no qual as distancias são minoradas e a aproximação entre duas pessoas é cada vez maior.
Predominava a idéia de que duas pessoas que se amam não podem estar longe uma da outra, de que não existe amor a distância. Mas com a Internet podemos repensar essa lógica ilógica de relacionamento, na medida em que as pessoas podem estar longes na distancia, mas perto em relacionamento.
Ainda dentro de um discurso conservador, argumenta-se que o terreno mais fértil para as mentiras é a internet. Eu mesmo já menti (e também pergunto quem nunca o fez). Quando perguntado sobre minhas características físicas, respondi: moreno cor de jambo, alto, corpo atlético, sarado , coxas grossas e barriga de tanquinho.
De fato as pessoas mentem sobre a beleza, bem como o status social, profissão, entre outros. Mas num item não se pode mentir: as características da personalidade, como o humor, a inteligência, entre outros que podem ser apreendidos a partir da força da narrativa.
Todavia, com o passar do tempo as pessoas vão gostando da pessoa como pessoa, e não pelos atributos físicos, o que permite fugir da tão massacrante ditadura do corpo.
Mas o que acontece quando se marca um encontro na internet e a pessoa se atrasa para entrar no chat? Nada mais que o sentimento de rejeição. Assim, existe tanta diferença de um relacionamento virtual para os relacionamento reais? Creio que não.
Mas como fica o Sexo virtual? Ainda causa confusão na cabeça de muita gente a idéia de um relacionamento de amizade ou namoro pela internet, o sexo nem se fala. Como o sexo real há todo um estímulo para a excitação, algo fundamental na relação (alguém discorda disso? rsrsrs) e diante disto, a partir do que é dito pelos parceiros é quase possível sentir a presença do outro para a relação, e isso talvez transcenda uma simples masturbação, porque se depende do outro, o que não garante menor qualidade na relação, e sim a intensidade do orgasmo. E com a internet as pessoas passam a ter mais liberdade e ousadia nas suas fantasias sexuais, que são ou podem ser vividas com mais intensidade.
Com muita certeza alguém disse que nada deixa de ser aproveitado pelos homossexuais. Depois da revolução da informática, a era da tecnologia da informação passa a ser encarada pelos homossexuais como uma importante ferramenta para a conquista de novos relacionamentos amorosos, para a continuidade do armário ou para que se possa simplesmente fazer amizades, o que não é o mais freqüente na vida dos glbtt.
O espaço cibernético tem um numero significativos de chat’s para homossexuais. Quanto a permanecer no armário o chat é um dos maiores ícones para demonstrar que de fato existem mais homossexuais ou bissexuais do que se imagina.
Muitos estão sequiosos por companhias e excitação sexual e o espaço cibernético está aberto 24 horas por dia, aí é possível conversar ao mesmo tempo com pessoas de variados perfis e Ter a oportunidade de escolher qual se enquadra na idealização romântica.
Empresários, médicos, militares são comuns quando em dia de folga procuram dar uma escapada. A dimensão simbólica da linguagem estabelece códigos que dão conta de um breve perfil da pessoa, antes mesmo que se inicie um bate papo. Símbolos como h x h dão conta de um homossexual; a idade que é colocada posteriormente ao nick ; a palavra local, que indica que a pessoa tem um espaço real para o prazer sexual; macho ou discreto, que indica o papel de gênero da pessoa e o semelhante que ela procura; cam, que indica que se possui uma web cam, o que possibilita posteriormente a conversa o inicio de um possível sexo virtual, e tantos nick’s que indicam que o alto grau de erotismo numa sala de bate papo, o que não significa um referencial de promiscuidade.
Durante muito tempo ter fantasias sexuais era um símbolo de promiscuidade. Com a revolução sexual houve os estigmas foram em parte quebrados. Com a internet a possibilidade de desenvolver as fantasias são grandes e sem o pudor que a sociedade hipócrita impõe.
A Internet garante a impessoalidade , o anonimato, que são garantias do continuar no armário. É tanto comum achar adolescentes em casa aproveitando a ausência dos pais para garantir.
As perguntas básicas após o inicio de uma conversa virtual é saber de onde a pessoa está conversando (tc de onde ? ), saber a idade, saber as características visuais da pessoa do outro lado. As formas corpóreas são largamente utilizadas como um recurso publicitário de si mesmo, para que se possa ter mais pessoas conversando. Imagens como a de um corpo atlético, ou de um rostinho angelical são um dos cartões de visita.
Evidentemente a Internet não somente foi usada como ferramenta facilitadora de novos relacionamentos. Como aproxima as pessoas no mundo todo, ratificando o planeta como uma verdadeira aldeia global em tempos de globalização, contribui imensamente para a democratização das informações sobre sexo e sexualidade. Assim, muitos jovens que , devido ao estigma da homossexualidade, não tinham coragem de fazer perguntas sobre seus sentimentos para alguém dada a grande carga de preconceito existente na sociedade, acharam na internet as respostas para suas dúvidas. Sem duvida, isso ajuda deveras o adolescente a entender um pouco mais de si mesmo.
Quando digo que nada nos escapa não deixo de incluir o preconceito. Muitas vezes cheguei a ouvir sobre o “perigo” da internet. Advertências aos pais eram dadas sobre o grande numero de homossexuais que existiam na rede. E os pais infantilmente alertavam os filhos e pediam para eles não entrarem nas salas. O preconceito não deixa as pessoas perceberem que se o filho for heterossexual não será uma simples cantada via internet que lhe vai recrutar para o mundo homossexual. E o preconceito também não permite que se abra os olhos para os acontecimentos passados, pois quando não havia internet homossexuais usavam outro espaço para poder caçar, por assim dizer, como no shopping, no cinema, ou em tantos outros espaços que a pequena folha de papel não permite , por razões de logística, escrever.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Ano novo, Amor Novo? Parte II

Volto com o tema do ano novo e suas expectativas sobre os nossos relacionamentos amorosos.
Faz parte da sensação de um ano novo todo um exercício reflexivo sobre o ano que passou, e , se estamos sozinhos, sonhar com um novo amor, ou se estamos com alguém torcer para que a relação melhore.
Começemos pelos que estão "sozinhos". Na nossa cultura procuramos estabilidade e felicidade, mas estamos condicionados que só teremos esta plena realização se tivermos com outra pessoa para nos completar, ou seja, a nossa dita alma gêmea, e cremos que alguém como parceiro (a)
é indispensável, e isso reforça um modelo de dependência amorosa entre duas pessoas.
Acontece que algumas pessoas caem em profundo estado de depressão quando não tem ninguém para trocar presentes dia 12 de Junho. São pessoas que beberam na fonte da felicidade que diz como deve ser a vida, e que as pessoas tem que manter uma relação estavel com alguém para serem consideradas maduras, caso contrário o sentimento de solidão e abandono passa a ser tão constante quanto o ato de respirar, e então vemos que essa tal felicidade é realmente como um pote de ouro atrás do arco-iris: nada mais que balela.
Todavia, também existe um outro lado da moeda: os que optam pela manutenção de relacionamentos que são que são frustrantes na sua essência. Os sujeitos dessa relação se submetem de tal forma á estruturas tradicionais de relacionamento que preferem uma relação muitas vezes insuportável a viver "sozinhos", preferem , neste sentido, suportar o insuportável.
Novamente o medo da solidão une essas duas situações: os que estão num exercício incessante de busca de um relacionamento estável e os que preferem os frios relacionamentos com medo de uma dita solidão.
É claro que estas concepções equivocadas tem base histórica, afinal segundo a Bíblia , que rege o modelo de conduta no Ocidente, a partir de uma perspectiva judaico-cristã, Deus criou Eva para que Adão não se sentisse só. E a predominância desta convicção errônealeva as pessoas amanterem relacionamentos que só geram opressão e sofrimentos ás partes envolvidas.
Não quero ser taxado de não atentar para a diversidade sexual. Portanto para os gays a situação gera proporções maiores, ainda que muitas nao atentem para este lado. Devido o grande número de parceiros através do alto intercâmbio sexual de uma parcela significativa, como por exemplo a cultura da sauna ou do banheirão, os relacionamentos são muito situacionais.
Para muitos , embalados pelo mito da juventude, e por uma leve liberalização dos costumes é tolerável entre dois jovens, mas não entre duas pessoas de meia idade, os chamados ursos. Por isso é latente em muitos homossexuais o desejo de num futuro constituirem um tradicional modelo de família, o que constribui consideravelmente para que fiquem dentro do armário.
Assim, continuamos acorrentados na ditadura do relacionamento estável, cujos aparelhos ideologicos sao sustentados a ferro e fogo. O meu desejo para o ano novo não é um amor novo, mas que possamos construir uma verdadeira revolução sexual, que agregue liberdade sexual e sentimental para construirmos uma sociedade libertária, e para todos os que querem gozar a liberdade e a felicidade fica o meu mais sincero voto de FELIZ ANO NOVO.

domingo, dezembro 24, 2006

Chegamos ao final de mais um ano, as esperanças renovam-se, as expectativas aumentam e os anseios recrudescem. As pessoas desejam a si mesmas sucesso em vários aspectos da vida: profissional, social, politica, e fundamentalmente amorosa.
O alcance da felicidade para muitos é conseguir um aumento de salário, uma promoção no emprego, mas todos desejam uma vida amorosa satisfatória.
Conforme chega o fim do ano as pessoas sentem-se como num último capítulo de novela ou a parte final de um conto: as pessoas têm de arranjar um parceiro (a) para ser feliz plenamente.
Há um modelo de felicidade , sustentado numa idealização romântica, que impõe que para se ter uma vida satisfatória é preciso ter uma relação fixa e duradoura, e quem não chegar a este padrão derelacionamento não pode ser feliz.
É claro que muitas mudanças sociais ocorreram: o casamento já não é mais a regra, cedeu lugar á união estável, mas infelizmente a mensagem que fica é que umrelacionamento estável com alguém é fundamental.
O mito da alma gêmea é continuamente reforçado pela cultura de massa e cultura popular nesta época do ano em que se abrem novas esperanças de uma vida feliz. A busca incessante da "outra metade" como forma de complementação irá gerar duas situações: opressão e sofrimento na medida em que as pessoas optam pela manutenção de uma relação desgastada e infeliz, ou que no próximo fim de ano as pessoas renovem essa alentação por dias melhores necessariamente ao lado de alguém.
Que o ano que entra nos faça refeltir acerca deste padrão de relacionamento, e que possamos nos libertar deste paradoxal modelo opressor de felicidade.