quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Amor de Carnaval

"Se tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer a verdade...teria ouvido a verdade que eu teimo em dizer brincando"

Anteontem, quarta feira o carnaval chegou ás cinzas. Era a quarta-feira de cinzas. O Carnaval acabou. Será que alguém viveu um relacionamento que junto com as cinzas acabou?No carnaval existe todo um relaxamento cultural, como bem lembram os mestres Carlos Rodrigues Brandão e Roberto DaMatta. Há no carnaval a liberdade para que homens se vistam de mulheres, mulheres de fadas, mendigos de príncipes , entre outras alegorias e adereços que nos são facultados somente naquele espaço e tempo.Então devido a essas limitações do tempo, podemos sentir no ar a excitação sentimental e sexual carnavalesca.
As pessoas querem mais é beijar, se divertir, fazer sexo com as pessoas sem a necessidade da transcendência do relacionamento.Os velhos preconceitos morais são neste momento mandados para a conchinchina. O medo do sexo é rompido pela regra da plenitude da felicidade. Acho que Renato Russo sempre foi feliz nos seus versos, e eles podem tomar um sentido mais amplo se aplicados ao Carnaval: “Disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza, ter vontade é ter coragem...”*.A ousadia que se observa, determinada pelo afrouxamento das regras de conduta moral, são infelizmente mortas com a Quarta-Feira de Cinzas.
A sensualidade exacerbada já não mais existe na Quinta-Feira de Ressaca.Estava conversando com o amigo Paulinho na segunda-feira de carnaval e dizia pra ele que na vida nossos comportamentos são socialmente construídos. Assim, ninguém é Gabriela Cravo e Canela, porque ninguém nasceu assim, cresceu assim, é mesmo assim e vai ser sempre assim. No amor acontece a mesma coisa, aprendemos a viver o amor.
As amarras que nos aprisionam a um modelo saturado de relacionamento recebem um indulto no carnaval para viver, e não ter a vergonha de ser feliz, curtir a vida, que é bonita, é bonita e é bonita.Acabou o Carnaval, mas que possamos fazer da liberdade que vivenciamos neste momento a força motriz que irá determinar a nossa conduta.
Que a carapuça da cartilha que ensina como deve ser a vida , essa sim a única mascara que resiste após o Carnaval, seja jogada longe, nas profundezas do mar sem fim, e que possamos nos jogar no mar da felicidade plena, sem a hipocrisia do mito do amor romântico que insiste em se manter na nossa sociedade.
A grande verdade é que precisamos romper com o nosso modelo de relacionamento, este quase uma palhaçada, e devemos ouvir as verdades brincando, assim como no carnaval.


* versos da música Há Tempos